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É hora de agarrar a oportunidade.“Cão que late, não morde.” (05)
“Muito vento, pouca chuva.” (05)
A GATA E OS SEUS FILHOTES
— Mas o que se pode fazer? Sempre existirão ricos e
pobres... E estes sempre serão dominados. Resta a nós, os
pobres, apenas sobreviver do jeito que der — dizia um
camponês ao Mestre , numa conversa sobre a decisão de
vender seu pequeno sítio a um poderoso conde, já que não
conseguia produzir o suficiente para pagar as suas dívidas.
— E o que pretende fazer depois de vender suas terras?
— A única coisa que sei fazer é lidar com a terra. Então,
vou ver se consigo algum trabalho numa dessas grandes
fazendas. O salário é uma miséria, mas... O que se pode
fazer?
— Mas você não pretende lutar pelo que é seu?
— Lutar, Mestre? Como?! Esse jogo é de cartas
marcadas, já tem ganhador certo.
Vendo que o camponês estava por demais convicto de
sua derrota, o Mestre introduziu uma breve estória para
chamar-lhe a atenção:
— Escute: “Uma gata estava prenhe e, na iminência
de ter os seus filhotes, tratou logo de arranjar um lugar
seco, confortável e seguro para abrigá-los. Nasceram três
lindos gatinhos. A mãe deles cuidava com uma dedicação
tão grande que até comovia quem os observava.
Certa noite, entretanto, enquanto a gata se ocupava
de buscar o seu alimento, os filhotes saíram do abrigo para
brincar. Ótima oportunidade para uma raposa que rondava
o local, e já se preparava para um ataque arrasador.
Mas, alertada pelos miados dos seus filhotes, a gata surgiu
velozmente e fez frente à raposa com tanta ferocidade
que a esta só restou fugir contrariada. Em seguida, um a
um, a mãe agarrou cada filhote pelo pescoço, sustentandoos
firmemente entre suas mandíbulas, mas sem machucálos,
e reconduziu-os ao abrigo.”
— O que você diria - perguntou, então, o Mestre — se
a gata conformada ou com medo, ficasse apenas olhando
de longe a raposa devorar os seus filhotes?
— Eu acho que isso nunca poderia acontecer, pois está
na sua natureza proteger os seus filhotes.
— Ou ainda, imagine se, depois de lutar bravamente
para protegê-los, ao tentar carregá-los, acabasse por matálos
com a força de suas mandíbulas?
E o camponês repetiu o seu argumento:
— Está na sua natureza. Ela sabe usar a sua força
para atacar e para proteger.
— Pois bem, busque você também na sua natureza a
ferocidade para defender o que lhe é precioso. Sem ser violento
e destrutivo, mas com determinação. Não evite o confronto
quando tentam roubar-lhe o essencial. Agarre os
seus sonhos com a firmeza e a ternura com que a gata carrega
os seus filhotes. Proteja-os.
Aquele que tem o espírito elevado cultiva a
mansidão, mas sem perder a capacidade de indignar-
se contra as injustiças, e agarra obstinadamente
o que é bom e justo.
CONSIDERAÇÕES
- Não tente agarrar-se àquilo que não é seu ou que
não pode ser possuído.
- Não se agarre a coisas pequenas e de pouco valor.
- Ao agarrar o que deseja, tome cuidado para não destruí-
lo com sua força.
- Lute para valer, com toda a sua garra, em busca dos
seus sonhos e na defesa do seus direitos, não apenas para
o seu próprio benefício, mas também a fim de abrir caminhos
aos seus semelhantes e àqueles que vêm depois de
você.
- Não permita que pessoas mal intencionadas tirem
vantagens perversas, e não seja seu cúmplice. Mostre que,
por uma boa causa, você luta brava e dignamente.
- Quando não souber o que agarrar, não o faça às cegas,
mas busque conselho e orientação em alguém mais
sábio e experiente.
O BOI(04)
Um jovem trabalhador do campo, escondido num
capinzal, espera a passagem de um boi, que vem distraidamente
por uma trilha. A sua intenção é capturá-lo para
utilizá-lo como tração animal na aragem da terra.
Ao vislumbrar o boi que se aproxima, fica temeroso
por causa dos seus afiados chifres e, em vez de agarrá-lo
de frente, decide deixar que passe para agarrá-lo pelo rabo.
E então, assim que o animal acaba de atravessar, o jovem
salta e coloca-se rapidamente por detrás. Mas, para sua
surpresa, esse boi não tinha mais o rabo! Assustado, o animal
foge.
— Toda oportunidade é também um desafio, que também
pode assustá-lo. Mas trate de agarrá-la firme e corajosamente,
de frente, logo que se apresentar, pois, do contrário,
se deixar passar, poderá perdê-la.
O GAROTO E O BARCO
Um garoto com muito esforço tinha arrastado um pequeno
barco para as margens do lago, e pelejava para virálo
e retirar a água das chuvas que se acumulara em seu
interior. Mas o peso era muito acima da sua capacidade
física. Então o pai, que o observava de longe, veio em seu
socorro. Mostrou-lhe que bastava destampar um pequeno
orifício na parte superior da embarcação para, inclinando-
a aos poucos, toda a água por ali ser escoada, com um
mínimo de esforço.
O menino vibrou com a descoberta e com a possibilidade
de vencer o desafio contando com a sua própria força.
— E se você o mantiver coberto com aquela capa —
concluiu o pai, sorrindo — será ainda mais fácil, pois o barco
não recolherá a água das chuvas.
— Não basta bravura para enfrentar as adversidades.
É preciso sabedoria para evitá-las e contorná-las.
* Ao agarrar algo, cuide de ter a sua base firmemente
apoiada, para não ser arrastado, como aquele que salva o
colega que se afoga deve precaver-se de não ser puxado
para o fundo das águas.
* Doma-se a ferocidade de um leão fazendo-o
passar por fome e sede, e, em seguida, oferecendo-lhe
migalhas como recompensa à sua docilidade. Assim
também, o poder de uma pessoa é aprisionado privando-a
de afeto, segurança e dignidade, que passam a ser manipulada sistematicamente por outros.
