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É hora de agir com firmeza e graça.“Quem é rei nunca perde a majestade.” (05)
A ELEGÂNCIA DOS PATOS
— Não participarei disso! — respondeu sucinta e asperamente
o jovem lavrador, ousando negar o convite , feito
por um rico e poderoso dono de terras do reino, para que
chefiasse os trabalhos de ceifa do trigo. O rapaz simplesmente
virou as costas e foi-se afastando.
— Mas o que foi?! Não estou lhe pagando o bastante?
— Não se trata disso. Reparei que existem crianças
pequenas, que deveriam estar na escola, e no entanto trabalham
aqui sob um sol intenso, com foices e facões. Por
isso não apenas recuso o trabalho, como lutarei também
por um fim imediato da humilhação lançada sobre essas
famílias.
Mais tarde, tendo encontrado o Mestre, que meditava
junto ao lago, o jovem comentou sobre o ocorrido.
— Eu admiro esses pequenos animais — disse-lhe o
Mestre, indicando com um movimento de cabeça um grupo
de patos que deslizavam pela superfície do lago. — Ao
andar parecem desajeitados, mas dentro d’água assumem
movimentos de rara agilidade e elegância. A propósito, você
é semelhante a eles: antes era desajeitado, submisso, mas,
assim como essas aves descobriram o valor de suas nadadeiras,
você descobriu o seu verdadeiro valor. Agora sabe
respeitar-se e fazer-se respeitar.
Aquele que tem o espírito elevado conduz os
seus atos e toda a sua vida com suavidade e
graça, seguindo a vontade do Universo que vibra
em seu interior. Imprime em tudo a sua ordem,
o seu senso do que é belo e digno.
CONSIDERAÇÕES
- A sua elegância atrai pessoas e situações que reverenciam
o seu valor.
- Apresentar-se com elegância é uma demonstração de
auto-estima e respeito para com aquele que o recebe.
- A elegância não está na ostentação, mas em pequenos
detalhes que revelam sensibilidade e dignidade.
OS TRABALHADORES
Três trabalhadores foram buscar emprego numa vinha,
cujo dono era um homem bastante justo e generoso,
mas também, afamadamente, muito exigente.
O primeiro que se apresentou, logo no início da entrevista,
já foi ansiosamente perguntando sobre o valor do
salário. Em seguida, pôs-se a desfilar os seus inúmeros
atributos e experiências profissionais. Mas, apesar de todo
o esforço para autopromover-se, foi dispensado.
O segundo, ao contrário, pareceu bastante tenso, só
respondia o que lhe era perguntado. O seu olhar, submisso,
sempre procurava o chão, de maneira que nem percebeu
que o dono da vinha lhe estendia a mão para despedir-
se. Este também foi dispensado.
O último trabalhador que se apresentou tinha uma
postura diferente dos demais: era tranqüilo, olhar firme. E
quis saber mais sobre como surgira a vinha, quais as suas
tradições e sua história. Havia um equilíbrio entre a alegria
com que comentava as suas opiniões e o silêncio atencioso
com que ouvia. Havia nele um ar de dignidade que se
impunha. E, depois de conversar demoradamente com o dono
da vinha, quis conhecer o vinho produzido ali. Servidas duas
taças, com toda a reverência, o trabalhador brindou, de olhos
firmes no seu interlocutor. Apreciou a cor da bebida, apreciou
o seu aroma, num verdadeiro ritual.
Após informá-lo que gostaria muito que viesse trabalhar
ali, o dono da vinha justificou a sua escolha:
— O verdadeiro produto dessa vinha não é apenas uma
bebida, mas a elegância, a sensibilidade e a alegria que
estão presentes quando se brinda com um bom vinho. E
somente você foi capaz de demonstrar isso.
— Quem é capaz de apreciar aquilo que tem valor, é
certamente uma pessoa de valor.
* A elegância é como a plumagem encantadora dos
pássaros: é natural, faz parte da sua maneira de ser. Não é
uma roupa que se veste, mas algo que se revela do interior
de cada um.
O LÍDER
Quando ele fala, todos se aquietam, pois sabem que de
sua boca saem palavras sábias e assuntos importantes. O
seu poder de comando não está no temor dos subordinados,
mas no respeito e admiração que desperta.
Quando colocado entre as grades por pessoas ambiciosas,
receosas do seu poder, ainda assim o líder se faz respeitar,
até pelos seus carcereiros. O seu poder só aumenta,
pois todos se unem para exigir a sua soltura. Mesmo lá de
dentro da prisão, suas palavras chegam aos ouvidos do seu
povo, orientando-o, repreendendo-o e confortando-o.
Quando, comemorando sua libertação, a multidão o
cerca e alegremente o suspende nos braços, ele não se
enrubesce, pois aceita a sua posição de destaque; e também
não se envaidece, pois sabe que tal posição está a serviço
da coletividade.
Quando caminha pelas ruas, saudado por todos, e um
estranho traiçoeiramente o alveja, o líder, ainda nesse instante,
revela toda sua dignidade, segurando a mão do seu
agressor, olhando em seus olhos e proferindo palavras de
perdão, antes de tombar.
E sua morte só vem eternizar a sua figura, símbolo da
elegância de um povo que descobre o seu valor.
— Para liderar pessoas é preciso, antes, nelas despertar
a confiança, o respeito e a admiração.
* Uma pessoa faminta facilmente perde a elegância
ao comer. Igualmente, dominada pela necessidade, medo
ou desejo, uma pessoa perde a elegância na sua maneira
de agir. A elegância é própria de quem está no controle de
si mesmo.
A verdadeira elegância brota da aceitação da ordem
da vida. Quando contemplamos a passagem do tempo, as
mudanças da natureza, o movimento das estrelas, percebemos
a efemeridade da vida, e nos sentimos parte de algo
infinitamente maior. Quando contemplamos o movimento
das pessoas, a sua luta do dia-a-dia, observando o que as
atrai e o que as ameaça, sentimo-nos nelas espelhados, e,
então, procuramos pacientemente compreender, perdoar
e transcender nossas tolices e ansiedades.
