48 O ESSENCIAL

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É hora de resgatar e respeitar o que é essencial, que não pode ser
mudado, nem ignorado.

“Pode-se mudar uma cidade, mas não um poço.
Pode-se mudar a aparência, mas não a natureza
essencial das coisas.” (14)
“O essencial é invisível aos olhos.” (05)

A CORRIDA
— Mesmo que aparentemente tardio, o sucesso virá!—
respondeu o Mestre a uma mulher que questionara se valia
a pena tanta luta e sofrimento dos camponeses para
recuperarem suas terras.
E contou-lhe uma estória:
— Era o final de uma corrida comemorativa, onde participavam,
juntos, atletas e pessoas comuns, das mais diversas
idades. A disputa entre os atletas era bastante acirrada,
pois, tendo treinado por vários meses, empenhavam-se
então ao máximo.
Por uma diferença de menos de um segundo, surge o
grande vencedor! Ouvem-se aplausos exaltados da multidão
que assiste o evento.
Definidos os primeiros lugares, os outros que iam chegando
já não demonstravam tanto esforço. Alguns até
displicentemente paravam, conversavam uns com os outros,
riam. Para estes o que valia era participar da festa.
Entretanto, quando a multidão já se dispersava e os
organizadores consideravam o evento encerrado, surge um
retardatário, um homem baixo, de meia idade, com a roupa
encharcada de suor, as pernas trêmulas, num esforço
heróico para cruzar a linha de chegada.
Alheio à indiferença e aos risos, ele termina a corrida.
E recebe uma simples fita de reconhecimento pela participação,
com o orgulho de campeão estampado no rosto.
Voltando-se para a mulher, o Mestre conclui:
— Para este último o essencial era dar o melhor de si,
vencer um desafio. Isto o fez tão vencedor como os primeiros.
E essa verdade bastava-lhe, embora ninguém dela soubesse.
Assim, para os camponeses, como para qualquer pessoa,
o essencial é que sempre lutem pelos seus sonhos e
objetivos. Pois se alguém desiste do que lhe é essencial, ou
troca-o por outras vantagens, o que lhe resta?

Aquele que tem o espírito elevado avalia com
profundidade as questões antes de tomar qualquer
atitude, não se deixando enganar por aquilo
que é aparente e passageiro.

CONSIDERAÇÕES
- Mantenha-se no caminho central, aquele que traduz
suas verdadeiras aspirações, livre das cobranças dos outros.
- Essencialmente, você é o que é, e não o que aparenta
ser ou o que gostaria de ser.
- Cuide para não viver apenas superficialmente suas
alegrias e dores, tomando emprestado causas e sonhos
alheios, adorando mitos e ídolos, os quais se alimentam da
sua alienação.
- Conforme vai amadurecendo, você começa a saber o
que de fato é melhor e mais importante para si. Então torna-
se muito difícil continuar a trair-se.
- A partir do momento que você descobre que nada de
essencial pode ser-lhe acrescentado, com todo o seu esforço
e agitação, também descobre que nada de essencial pode
ser-lhe roubado pelas ameaças e problemas. E isto certamente
lhe traz uma grande sensação de paz.
- Você já tem tudo o que precisa para ser feliz. A consciência
disso é que lhe abre as portas da felicidade.
- Esteja onde estiver, aconteça o que acontecer, algo
que sempre o acompanhará é você mesmo, com os seus pensamentos,
sentimentos e lembranças. Então procure cultivar-
se, para ter uma boa companhia.
- Um atraso nos seus planos, em virtude de dificuldades
e imprevistos, não deve significar fracasso ou desistência.
Você ainda está vivo! Observe as novas oportunidades
que surgem, redefina as suas estratégias, pois a
busca continua.

O VENDAVAL
Uma cidadela foi surpreendida ao cair da tarde por
uma violenta rajada de vento e forte chuva. Os habitantes
ficaram escondidos em suas casas, nos porões, apreensivos
pelos estragos que iriam encontrar. Nos poucos minutos
que durou, o vendaval deixou um rastro de destruição.
Casas destelhadas, algumas destruídas inteiramente, árvores
grandes com suas raízes para os ares, lama por toda
a parte, possivelmente muitas vítimas. As pessoas olhavam
de um lado para o outro desoladas.
E, como geralmente acontece nesse tipo de situação,
surgiram logo os líderes espontâneos. Estes rapidamente
superaram o impacto e já procuraram avaliar o que se tinha
salvo e o que ainda dava para salvar, se agissem eficazmente.
Assim, incansavelmente, por toda a noite e ma-
drugada, participaram dos salvamentos e mobilizaram os
outros para que cuidassem dos desabrigados.
Dentre esses líderes, uma senhora viúva chamava a
atenção, pela maneira tranqüila e objetiva com que orientava
as ações dos grupos de voluntários, em meio a tanto
atropelo e desespero:
— Vamos! Agora o importante é salvar vidas!... O essencial
é cuidar de quem está vivo! — eram palavras de
ordem que dela se ouviam repetidamente, procurando
manter o ânimo das pessoas e o controle da situação.
Alguns dias após o trágico vendaval, um grupo ficou
responsável por avaliar e definir quais as casas que não
tinham mais condições de restauração, e deveriam ser demolidas.
— O que importa é evitar que a sua casa desmorone,
matando sua família — procurava aquela senhora confortar
um morador em prantos ao saber que sua casa estava
condenada. — O essencial é estar vivo, com saúde; o restante
você busca, com muita garra e com a ajuda de todos
nós!

— Em meio a desastres, tropeços e desarmonia, você
deve ater-se a algo certo, óbvio, básico. E, então,
redirecionar suas atividades. Mas, para isso, é preciso saber
definir imediatamente o que de fato é importante, o
que não é importante e o que é essencial.

*Num terreno árido pode-se encontrar água pura,
cavando um poço que atinja mais profundamente as
entranhas da terra. Toda pessoa traz em seu íntimo, a ser
descoberto, um veio precioso de sabedoria e pura vida.