• O CAMINHO

    O LIVRO DAS BUSCAS

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    TRANSFORMAÇÕES, ESCOLHAS, GANHOS, PERDAS

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    DETERMINAÇÃO, INTEGRIDADE. NECESSIDADES, OBJETIVOS, SONHOS.

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    ELEGÂNCIA, ALEGRIA, SABEDORIA, COOPERAÇÃO

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    O SEU PAPEL NO MUNDO. SEUS DONS. SEUS DESAFIOS. SUA MISSÃO.

Baseado no I Ching, você faz uma pergunta, joga as moedas, e consulta o texto. Processo projetivo de tomada de decisões, visando superar desafios e melhorar a qualidade de vida.

29 PERIGO

código: cacaco-cacoco-cacaco-cacaco-cacoco-cacaco
É hora de manter-se atento e cauteloso.

“O seguro morreu de velho.” (05)
“O que cai, do chão não passa!” (05)
“Crise é oportunidade.” (11)

SOMBRAS
Já era bem tarde da noite. Um discípulo percorria a
pé alguns quilômetros através de uma estrada escura,
margeada por densa vegetação, de volta à comunidade
onde esperava encontrar o Mestre.
— Não há nada a temer. É um lugar sossegado — diz
para si mesmo, procurando dissipar temores.
Então acendeu sua lanterna e tomou o caminho, usando
um pequeno galho como bengala, para evitar buracos e
espantar indesejáveis cobras.
A certa altura, o discípulo começou a lembrar-se de
estórias que já ouvira dos nativos, sobre viajantes que ali
teriam visto alienígenas, fantasmas, ouvido cantos e vozes
misteriosas. Ocorreu-lhe então que, há poucos meses,
um camponês fora assassinado, numa estrada como aquela,
por capangas de fazendeiros inescrupulosos, em virtude
de disputas de terras. E sentiu um arrepio percorrerlhe
o corpo, ao perceber-se sozinho ali naquela escuridão.
Uma brisa mais forte começa a agitar a vegetação, e
ele se assusta. Apressa os passos. Logo tem a impressão de
ouvir outros passos atrás de si... Pára, apura os ouvidos...
Mas apenas os grilos e sapos dominam com sua cantoria.
Então ele segue adiante, mas de espírito desassossegado.
— E agora, o que será isso?! — pergunta-se exaltado,
ao ouvir um ruído que lhe pareceu a respiração ofegante
de alguém.
Ele aumenta a luz da lanterna e a dirige apressadamente
de um lado para o outro, visivelmente ansioso e com
medo.
Repentinamente depara-se com um par de olhos brilhantes
e vermelhos bem à sua frente. Ele grita apavorado!
E eis que uma lebre foge ruidosamente por entre os
galhos secos da vegetação.
Embora tente controlar-se, a partir daí tudo o assusta
muito. As próprias sombras em movimento produzidas pela
luz da lanterna insinuam-lhe monstros gigantescos, vultos
traiçoeiros que se esquivam do seu olhar.
— Já devo estar chegando. Vou correr!
E, enquanto corre, o medo vai crescendo no seu peito,
como uma avalanche sem controle, como se algo terrível
estivesse no seu encalço.
— O que aconteceu?! — pergunta-lhe o Mestre, ao vêlo
chegar tão apressado.
— É que tive a impressão de que estava sendo seguido!
— responde, ainda recuperando o fôlego.
— Na verdade, parece que apenas os seus pensamentos
e fantasias o perseguiram... Desligue essa lanterna e
vamos caminhar um pouco para relaxar.
— Mas está muito escuro!
O Mestre continuou caminhando em silêncio. Depois
de alguns minutos, disse:
— Observe que nada o ameaça de fato. Os seus olhos
começam a adaptar-se à escuridão. Você já pode enxergar
muitas coisas. Solte-se, respire, repare nas estrelas...
— Sabe que eu nem tinha reparado que havia estrelas!
— De fato, o medo rouba a realidade. Dominada por
sua ansiedade, a sua razão torna-se como esta lanterna:
só ilumina o que você quer ou teme, e cria sombras enormes
e ameaçadoras a respeito de tudo que o cerca. Não
fuja do que o ameaça, senão será dominado. Apenas tome
cuidado, apure os sentidos, procure distinguir entre o perigo
real e o imaginário. Então, estrategicamente, decida
evitá-lo ou superá-lo.

Aquele que tem o espírito elevado age confiante
na sua capacidade e nas forças integradoras
do Universo, para enfrentar riscos necessários.

CONSIDERAÇÕES
- Quando você sente medo da própria sensação de medo,
cria um grande abismo no seu íntimo, onde se perdem as
forças que teria para reagir às ameaças.
- Lá no fundo do abismo em que são escondidos, os seus
medos exercem um enorme poder de atração sobre você, forçando-
o a uma luta inglória para não ser por eles tragado.
- Geralmente o cerne do medo é o que você desconhece
em si mesmo.
- A sensação de abismo, de queda sem fim, é uma ilusão.
Aceite as mudanças e o aparente caos que se lhe apresentam,
e logo você verá surgir uma nova ordem na sua vida.
- Ao ser empurrado, atropelado pelos problemas, não
caia desajeitado, tentando agarrar-se em algo. Ao invés
disso, permita-se cair administrando a sua queda, aprendendo
docilmente, e ganhando firmeza ao chegar junto ao
chão. Assim você toma novo impulso e levanta-se logo em
seguida, fortalecido.
- Quando você se sente só, sem ninguém que o apóie,
tende a achar-se abandonado e fraco. Então tudo lhe parecerá
mais ameaçador do que realmente é. Amar e sentir-
se amado, verdadeiramente, torna-o mais confiante.
- O abismo que o separa dos outros também o isola de
você mesmo.
- Com medo de encarar o abismo infinito do ser mergulhado
no universo e no seu eterno devir, muitos desesperadamente
se fazem cercar de conceitos, preconceitos e
problemas que os entretenha no seu viver.

AS ARMADILHAS
Terminadas as dores do sangrento conflito que por
muitos anos vitimou os habitantes de duas tribos, estes,
entretanto, ainda tinham de conviver com um terrível resíduo
desses tempos de insanidade: as inúmeras armadilhas,
afiadíssimas, que foram espalhadas sob as areias das
estradas, sob a relva e por toda a parte. Crianças que inocentemente
brincavam no campo tinham os seus pés muitas
vezes dilacerados. Os que cultivavam lavouras não
sabiam qual deles seria o próximo a correr para a enfermaria.
Ninguém podia caminhar tranqüilo. O medo tornara-
se sua companhia constante.

— Não encubra erros ou situações mal resolvidas, deixando-
os para trás no seu caminho, pois, mais cedo ou mais
tarde, neles você tropeçará como numa armadilha. E se
você vive arquitetando planos e proferindo palavras para
agredir o outro, certamente viverá perseguido pelo que
você mesmo criou.

* Tentar sair de um buraco puxando-se pelos próprios
cabelos, esta é a tolice de muitos que não buscam ajuda
numa pessoa mais sábia para libertar-se do medo e da
dificuldade que os aprisiona.

O MERGULHADOR
Desde muito menino, um jovem mergulhador desenvolvera
sua arte como ninguém. Surpreendia todos com a
sua fantástica capacidade respiratória, que lhe permitia
ficar bastante tempo submerso, a grandes profundidades.
Quando se via envolto na imensidão das águas, tinha uma
grande sensação de paz, esquecia completamente os seus
problemas.
Certo dia, tomado por uma imensa dor em razão da
perda de sua amada, que partira para bem distante, ele
quis refugiar-se nas profundezas do oceano. E, tendo, encontrado
um abismo incomensurável e escuro, sentiu-se
atraído e permitiu-se ir mergulhando cada vez mais. Foi
além dos seus limites. Não resistiu.

— Para explorar os sentimentos desconhecidos que
traz em seu íntimo, é preciso que você esteja preparado e
comprometido a voltar à superfície e à luz da sua consciência.
Se estiver tentando fugir de algo que o amedronta,
tenderá a perder-se nos próprios abismos.

*Atraído pela comida, o cervo ignora o perigo e
precipita-se sobre o laço preparado pelo caçador. Assim,
cuide para que as suas necessidades e carências não o
tornem uma presa fácil.

A ÚLTIMA QUEDA
Um homem de estatura elevada, vestes mal arranjadas,
caminhava cambaleante pela rua escura e vazia. A
noite estava fria; os cães latiam à sua passagem. Em sua
mente os pensamentos sucediam-se em rápidos lampejos,
repassando inúmeras situações de sua vida. Cenas de sua
infância pobre, mas feliz; o rosto do seu primeiro amor, que
ele mesmo destruíra; o sorriso do filho, que abandonara; o
olhar de compaixão da mãe, que há muito não via. Sua
vista parecia cada vez mais turva para enxergar o caminho,
mas a visão de sua vida tornava-se repentinamente
clara como nunca. Seus inimigos, que covardemente o alvejaram,
sumiram para não serem punidos, e o seus amigos...
Que amigos? E enquanto do ferimento em seu peito
jorrava o sangue que inutilmente tentava conter, apenas
uma palavra lhe ocorria: “Perdão! Perdão!” Não conseguiu
dobrar a esquina em busca de socorro. Caiu a um canto da
rua, enquanto o seu espírito achava uma fresta de luz para
nela mergulhar enfim.

— Nunca é tarde para cair em si mesmo, e reconhecer
as inúmeras quedas que você teve.

*Como as águas de um riacho fluem por entre os vales
sem nunca transbordar, diante de todos os perigos vá
simplesmente seguindo, respeitando os seus limites, e você
atingirá o seu objetivo.
 
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